sábado, 2 de agosto de 2014

Era das Lendas Rpg 2 - Colapso da Era de Bronze


"A Queda de Troia", por Kernstean De Keuninck
(Resumo TL;DR)

. A ambientação básica do Era das Lendas é o colapso da era de bronze,  período da história entre 1300-900 BCE. Nessa época, a região grega estava sob o domínio de Micenas, o Novo Império Egípcio ainda mantinha sua força e 

. O Colapso aconteceu devido à invasões, disputas políticas, calamidades naturais e quebra das linhas de comércio. Tais ocorrências levaram ao declínio as três grandes potências da região do mediterrâneo, com o desmantelamento da cultura palaciana de Micenas (que dominava grande parte da Grécia); a queda do império Hitita (que hoje compreende aproximadamente a região da Turquia, Síria e Iraque); e a destruição do Novo Império Egípcio (que se estendia até a região da atual Palestina e do Líbano).

. Eventos importantes: Os Ataques dos enigmáticos Povos do Mar (~1300-900); Erupção Hekla e inúmeros desastres naturais, como secas e doenças (~1300-1100 BC); Batalha de Kadesh (1274 BC); Guerra de Troia (~1260-1240 BC);  Invasão Dória (1100-900 BC); Fim do Novo Império Egípcio com a morte de Ramesses XI (1070 BC);  Reinado de Davi sobre Israel (1002-970 BC)

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No post anterior, falei sobre a proposta do Era das Lendas de usar como cenário a própria Terra mitológica ao invés de criar um mundo diferente. Neste post, irei falar sobre o colapso da era de bronze, a ambientação básica do Era das Lendas. Um período de tempo que compreendeu entre 1300-900 AC que é o um período na história da humanidade que ficou conhecido como 'A Idade das Trevas Antiga', talvez até mais terrível do que foi a Idade das Trevas Medieval, após a queda do Império Romano.

Nessa época, haviam três potências na região do mediterrâneo: O Novo Império Egípcio, a cultura palaciana de Micenas e o Império Hitita.

O Novo Império Egípcio (começado aproximadamente em 1550 BCE) se estendia até o oriente médio, na região da atual Palestina e do Líbano. O Novo Império surgiu após o segundo período intermediário, onde as terras egípcias estavam sob o domínio estrangeiro dos Hyklus. Depois de vencer os Hyklus, e em resposta às invasões, o Novo Império começou uma campanha de expansão, tendo o maior tamanho territorial da história egípcia. 

Extensão do Novo Império Egípcio, aproximadamente em 1450 BC

A cultura palaciana de Micenas se estendia por toda a região da Grécia, tendo diversas cidades estado sob seu controle. Seu poderio cresceu especialmente após dominarem a cultura Minoana (~1400 BC), residente da ilha de Creta (onde ficava a cidade e o palácio de Knossos, famoso pelo rei Minos e a lenda do Minotauro). Seria a partir de Micenas que aconteceria o chamado às armas que levaria à Guerra de Troia (1260-1240 BC). Apesar de sua riqueza e influência de Micenas, seu poder era fragmentado através de suas cidades-estado,  cada uma sendo, praticamente, um reino independente.  



O Império Hitita consolidou-se num governo centralizado e manteve um forte poderio militar no período conhecido como Novo Reino Hitita (~1400-1100 BC). Confrontando os povos próximos e mantendo aliados, os Hititas chegaram a estender seu controle até o Mar Egeu e a região próxima ao Líbano, controlando linhas de comércio e fechando o triângulo de troca com Egito e Micenas. Contudo, mesmo estabelecido, o Império Hitita manteve disputa com o Egito pela região da Palestina e Líbano, e, apesar de não proporcionar uma ameaça direta, os Assírios sempre projetaram sua sombra sobre os Hititas (o que, no futuro, com a queda do Império Hitita, iria eventualmente terminar numa invasão e junção de povos, criando o Império Persa aproximadamente em 800 BC).

Em roxo, Micenas. Em azul, o Império Hitita. Em amarelo, os Egípcios. Em verde, os Assírios.
Mapa de aproximadamente 1400 BC

Apesar do enorme poder destas três grandes culturas, sua estabilidade não era certa, estando sempre em guerras e disputas com inúmeros outros povos, fossem estas disputas internas ou externas. Foi um período de intensas movimentações de populações, com povos migrando de um lugar ao outro, atacando terras estrangeiras e procurando se estabelecer nos lugares conquistados. Houve uma corrente específica de migrações e invasões, muito importante mas extremamente misteriosa,  que impactou diretamente no Colapso - os chamados Povos do Mar.

Em todos os lugares, durante todo o período (1300-900 BC), os Povos do Mar fizeram ataques, saquearam e tomaram territórios. Sua origem é desconhecida, mas é bastante provável que este tenha sido um termo genérico para diversos povos que saquearam a costa - incluindo uma das tribos israelitas, gregos acadianos e ancestrais etruscos, sicílios e latinos (que viriam a formar Roma no futuro). Sua presença foi assomada também pelo movimento de invasão dos Dórios aos reinos de Micenas (~1100 BC), que na mitologia veio a ser conhecido como o retorno da Hercalidae, os filhos de Hércules. Junto às invasões, também aconteceram inúmeras pragas, secas e doenças no período, inclusive a erupção Hekla 3 (datada entre 1300-1000 BC), que teria jogado o Egito numa terrível seca. 

Um dos momentos mais importantes para foi a batalha na fortaleza de Kadesh (em 1274 BC), um território disputado entre Egípcios e Hititas. Após uma terrível confrontação entre as duas grandes potências, os Hititas recuaram para a fortaleza e os Egípcios, muito feridos para sitiarem o lugar, tiveram de recuar. Essa batalha marca o declínio derradeiro de ambos os impérios. No caso dos Hititas, outro momento importante, mitológica e historicamente, foi a Guerra de Troia (1260-1240 BC), que fez com que seus territórios no Mar Egeu fossem pedidos.  No caso do Egito, além das pragas, secas e outras calamidades naturais, os ataques constantes em seu gigantesco território - em especial o dos enigmáticos 'Povos do Mar' - levaram o Império a um declínio cada vez mais acentuado. Mais ou menos nesse período (~1300 BC) é que alguns historiadores colocam o Êxodo dos hebreus no Egito pois condiz com as grandes ondas de imigração no período.

Após o Colapso, o império Egípcio jamais voltaria à sua antiga glória, caindo no domínio Persa por volta de 800 BC. Os Hititas seriam reduzidos a uma nota de rodapé na história e anexados aos Assírios e, logo após, aos Persas. A cultura de Micenas desapareceria com a invasão Dória e, após o fim das invasões, as fundações da Grécia Clássica seriam estabelecidas, com a estruturação clássica das cidades de Atenas e Esparta.

Do ponto de vista do jogo de rpg, esse é um momento bastante prolífico para aventuras. A maioria dos textos mitológicos referem a esta era como recheada de herois, onde deuses ainda caminham na Terra, escolhendo seus campeões e tendo filhos com mortais. No Torah e Velho Testamento, esse período pode ser associado com o Êxodo e com o reino de Davi (1002-970 BC). Na mitologia grega, é a Odisseia e a Ilíada. Monstros caminham, o Minotauro ainda pode habitar o palácio de Knossos e a Esfinge ainda pode estar no caminho para Tebas. E, por fim, os enigmáticos povos do mar propiciam inúmeras ideias para aventuras, tanto com os jogadores fazendo parte das ondas de expansão, como tentando impedir o ataque deles contra suas cidades. No livro de rpg, pretendo elaborar em detalhes as possibilidades de aventura, fazendo ligações com textos mitológicos e clássicos. 

No próximo post, discutirei sobre o sistema e minha opção por um sistema 'old school' inspirado em AD&D e OD&D, aos moldes de Lamentations of the Flame Princess e Old Dragon.

Ah sim, e se possível, lembrem sempre de comentar e discutir. Gosto de ouvir as ideias de outras pessoas sobre o que eu escreva. = 3










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